terça-feira, 5 de novembro de 2013

As Duas Faces da Guerra, de Diana Andringa e Flora Gomes | 10 de Novembro



As Duas Faces da Guerra, de Diana Andringa e Flora Gomes
Cineclube do Barreiro
Domingo, 10 de Novembro, 16h30
Conversa com a participação de Diana Andringa a seguir à exibição
Entrada livre





De: Diana Andringa e Flora Gomes
Género: Documentário
Língua original: português
Classificação: M/12
Portugal, Guiné e Cabo Verde, 2007, cor, 100 min.

Sinopse
As Duas Faces da Guerra é um documentário rodado na Guiné-Bissau, Cabo Verde e Portugal e que integra um conjunto de entrevistas e depoimentos de pessoas que viveram o período da guerra colonial/libertação na Guiné-Bissau. Este documentário, realizado por Diana Andringa e Flora Gomes, dá o mote para um debate em torno dos temas da reconciliação, memória histórica e pós-conflito na guerra colonial portuguesa.
O documentário é composto por entrevistas a antigos combatentes e dirigentes portugueses, guineenses e cabo-verdianos que viveram na primeira pessoa o conflito entre 1963 e 1974, conflito esse que opôs o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde) às tropas portugueses.
Em 1995, Diana Andringa deslocou-se à cidade de Geba como repórter do Público e lá encontrou uma pedra meio destruída com o nome de soldados portugueses mortos em solo africano. Este foi o ponto de partida para a realização deste trabalho feito a quatro mãos. Juntamente com Flora Gomes, o documentário é o resultado dos dois pontos de vista, o português e o guineense, a respeito de um dos conflitos armados mais sangrentos sofridos durante a guerra colonial portuguesa.
Durante seis semanas, Diana Andriga e Flora Gomes percorreram as regiões de Mansoa, Geba, Bafatá e Guilege na Guiné-Bissau, além de Cabo Verde e Portugal, onde recolheram os testemunhos das pessoas que viveram a guerra colonial.
Ao longo do documentário, podemos ver a homenagem a Amílcar Cabral, fundador do PAIGC. Os testemunhos mostram a grande dimensão humana de Cabral que, apesar de se encontrar no meio do conflito entre os dois países, nunca deixou de sentir o povo português como algo de seu.
Segundo Amílcar, existia entre os dois lados uma cumplicidade que ia para além da guerra. «Não fazemos a guerra contra o povo português, mas sim contra o colonialismo», frase emblemática do líder e que mostra como muitos dos portugueses recrutados nas colónias estavam solidários com os movimentos revolucionários pela independência, o PAIGC no caso de Guiné-Bissau e Cabo Verde, o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) no caso de Angola e a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) no caso de Moçambique.
Assim sendo, não é por acaso que foi na Guiné que cresceu o Movimento dos Capitães que levaria ao 25 de Abril de 1974. De novo, as duas faces da guerra resultaram em duas vitórias: as independências da Guiné-Bissau e de Cabo Verde e a democracia em Portugal.
É esta «aventura a dois» que Andringa e Flora quiseram contar pelas vozes dos que a viveram.
Diana Andringa e Flora Gomes são os narradores do documentário. A banda sonora é composta por música portuguesa, guineense e cabo-verdiana da época.

Diana Andringa
Diana Andringa (Chitato, 21 de Agosto de 1947) é uma jornalista portuguesa. Estreia-se nos boletins universitários em 1965 e, em 1967, está no Diário Popular. Em 1968 é redactora da revista Vida Mundial, de onde sai no âmbito de uma demissão colectiva. Até ser presa pela PIDE, por actividades subversivas, trabalha como copywriter de publicidade. Volta ao jornalismo na redacção do Diário de Lisboa (1971-1972), acabando por se demitir. Entre 1972 e 1973 vai para França, onde chega a frequentar o curso de Sociologia na Universidade de Paris 8, em Vincennes. Regressa em 1974.
Antes de iniciar carreira na RTP passa, novamente, pela Vida Mundial (1976-1977), fixando-se definitivamente no jornalismo televisivo em 1978. Durante cerca de dez anos foi jornalista do Telejornal, e de programas diversos, como Zoom (actualidade internacional), Triangular (reportagem nacional), Informação 2 – Internacional, Grande Reportagem, Projectos Especiais, Documentais e Eruditos ou Departamento de Artes e Documentários. Entrevistou escritores como Jorge Luís Borges e Marguerite Yourcenar ou políticos como Kurt Waldheim, Delfim Neto, Enrico Berlinguer, Georges Marchais, entre outros. Também na RTP assinou a realização de vários documentários, entre eles, José Rodrigues Miguéis (1998), Jorge de Sena – uma fiel dedicação à honra de estar vivo (1997), António Ramos Rosa – estou vivo e escrevo sol (1997), Rómulo de Carvalho e o Seu Amigo António Gedeão (1996), Vergílio Ferreira: retrato à minuta (1996), Corte de Cabelo: história de amor, Lisboa, anos 90 (1996), Fonseca e Costa: A descoberta da vida, da luz e da liberdade (1996), Humberto Delgado: obviamente, assassinaram-no (1995), O Caso Big Dan's (1994), Iraque, o país dos dois rios (1985), Aristides de Sousa Mendes, o cônsul injustiçado (1983), Goa, 20 anos depois (1981).
Exerceu os cargos de subdirectora do Diário de Lisboa (1989-1990), subdirectora de actualidades na RTP1 (1998-2001) e subdirectora da RTP2 (2000-2001). Integrou a Comissão de Trabalhadores da RTP (1993-1998) e foi presidente da Direcção (1996-1998) e da Assembleia-Geral (1998-2001) do Sindicato dos Jornalistas.
Leccionou na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal (1998-1999) e na Escola Superior de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Lisboa (1998-2001).

Flora Gomes
Flora Gomes (Cadique, 13 de Dezembro de 1949) é um cineasta da Guiné-Bissau, pioneiro do cinema local e um dos mais representativos cineastas africanos. É conhecido pelo modo original de traçar retratos africanos, recorrendo ao mito e à história actual, numa fusão de elementos com delicada carga poética e forte sentido universal.
Filho de pais iletrados, empenha-se desde criança, lutando contra toda a espécie de dificuldades, em superar a sua condição social de origem. Conhece as adversidades que o sistema colonial português, gerido pela mão férrea de Salazar, impõe aos seus súbditos. Vê com admiração os líderes do seu país baterem-se de armas na mão contra a injustiça e não esconde a sua admiração por Amílcar Cabral, que, nas suas palavras, terá sido para com ele «como um pai». Conhece a dura experiência do exílio e, empenhado no seu próprio combate, estabelece laços de amizade com outros lutadores: não só os do seu país como gente de Cabo Verde e de vários outros países africanos.
Estuda cinema em Cuba (1972), no Instituto Cubano de Artes e Cinematografia, sob a orientação de Santiago Alvarez. Prossegue a sua aprendizagem no Senegal, no Jornal de Actualidades Cinematográficas Senegalesas, sob a direcção de Paulino Vieira (Paulino Soumarou-Vieyra). Co-realiza dois filmes com Sérgio Pina.
Foi assistente de Chris Marker e de Anita Fernandez. Regressado ao seu país, filma a sua independência (24 de Setembro de 1974), satisfazendo o desejo de Amílcar Cabral de serem os próprios guineenses a registar em película esse momento histórico. A Guiné, que se liberta do jugo colonial, é visitada por repórteres e cineastas progressistas e, dados os conhecimentos já adquiridos nas lides de cinema, Flora Gomes é bastante solicitado para os ajudar, o que enriquece o seu saber. Trabalha no final da década como fotógrafo e operador de câmara, colaborando com o Ministério da Informação.
Realiza documentários históricos. A sua primeira longa-metragem de ficção é de 1987: Mortu Nega, um filme que invoca a luta pela independência. A obra é exibida em vários festivais internacionais e Flora Gomes desperta a atenção de comentadores e críticos. Em França será acolhido de braços abertos, o que no futuro lhe permitirá reunir meios financeiros para a produção de novos filmes. Será distinguido neste país em 2000, com o título de «Chevalier des Arts et Lettres».
Participará e será premiado em festivais como os Veneza e Cannes, entre outros. Dada a sua nacionalidade e o facto de vários dos seus filmes serem co-produções com Portugal, Flora Gomes ocupa ainda um lugar especial na história do cinema português.

Filmografia:
1976 – O Regresso de Cabral (curta-metragem, documentário)
1977 – A Reconstrução (média-metragem, documentário) – co-realização com Sérgio Pina
1978 – Anos no Oça Luta (curta-metragem, documentário) – co-realização com Sérgio Pina
1987 – Mortu Nega (etnoficção)
1992 – Os Olhos Azuis de Yonta
1994 – A máscara (curta-metragem, documentário)
1996 – Po di Sangui (etnoficção)
2002 – Nha Fala
2007 – As duas faces da Guerra, co-realização com Diana Andringa (longa-metragem, documentário)
2013 – República di Mininus

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