As
Duas Faces da Guerra, de Diana Andringa e Flora Gomes
Cineclube do Barreiro
Domingo, 10 de Novembro, 16h30
Conversa
com a participação de Diana Andringa a seguir à exibição
Entrada livre
De: Diana Andringa e Flora Gomes
Género: Documentário
Língua original: português
Classificação: M/12
Portugal, Guiné e Cabo Verde, 2007, cor, 100
min.
Sinopse
As Duas
Faces da Guerra é um documentário rodado na Guiné-Bissau,
Cabo Verde e Portugal e que integra um conjunto de entrevistas e depoimentos de
pessoas que viveram o período da guerra colonial/libertação na Guiné-Bissau.
Este documentário, realizado por Diana Andringa e Flora Gomes, dá o mote para
um debate em torno dos temas da reconciliação, memória histórica e pós-conflito
na guerra colonial portuguesa.
O
documentário é composto por entrevistas a antigos combatentes e dirigentes
portugueses, guineenses e cabo-verdianos que viveram na primeira pessoa o
conflito entre 1963 e 1974, conflito esse que opôs o PAIGC (Partido Africano
para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde) às tropas portugueses.
Em
1995, Diana Andringa deslocou-se à cidade de Geba como repórter do Público e lá encontrou uma pedra meio
destruída com o nome de soldados portugueses mortos em solo africano. Este foi
o ponto de partida para a realização deste trabalho feito a quatro mãos.
Juntamente com Flora Gomes, o documentário é o resultado dos dois pontos de
vista, o português e o guineense, a respeito de um dos conflitos armados mais
sangrentos sofridos durante a guerra colonial portuguesa.
Durante
seis semanas, Diana Andriga e Flora Gomes percorreram as regiões de Mansoa,
Geba, Bafatá e Guilege na Guiné-Bissau, além de Cabo Verde e Portugal, onde
recolheram os testemunhos das pessoas que viveram a guerra colonial.
Ao
longo do documentário, podemos ver a homenagem a Amílcar Cabral, fundador do
PAIGC. Os testemunhos mostram a grande dimensão humana de Cabral que, apesar de
se encontrar no meio do conflito entre os dois países, nunca deixou de sentir o
povo português como algo de seu.
Segundo
Amílcar, existia entre os dois lados uma cumplicidade que ia para além da
guerra. «Não fazemos a guerra contra o povo português, mas sim contra o
colonialismo», frase emblemática do líder e que mostra como muitos dos
portugueses recrutados nas colónias estavam solidários com os movimentos
revolucionários pela independência, o PAIGC no caso de Guiné-Bissau e Cabo
Verde, o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) no caso de Angola e a
FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) no caso de Moçambique.
Assim
sendo, não é por acaso que foi na Guiné que cresceu o Movimento dos Capitães
que levaria ao 25 de Abril de 1974. De novo, as duas faces da guerra resultaram
em duas vitórias: as independências da Guiné-Bissau e de Cabo Verde e a
democracia em Portugal.
É
esta «aventura a dois» que Andringa e Flora quiseram contar pelas vozes dos que
a viveram.
Diana
Andringa e Flora Gomes são os narradores do documentário. A banda sonora é
composta por música portuguesa, guineense e cabo-verdiana da época.
Diana Andringa
Diana Andringa (Chitato, 21 de Agosto de
1947) é uma jornalista portuguesa. Estreia-se nos boletins universitários em
1965 e, em 1967, está no Diário Popular. Em 1968 é redactora da revista Vida
Mundial, de onde sai no âmbito de uma demissão colectiva. Até ser presa
pela PIDE, por actividades subversivas, trabalha como copywriter de publicidade. Volta ao jornalismo na redacção do Diário
de Lisboa (1971-1972), acabando por se demitir. Entre 1972 e 1973 vai para
França, onde chega a frequentar o curso de Sociologia na Universidade de Paris
8, em Vincennes. Regressa em 1974.
Antes
de iniciar carreira na RTP passa, novamente, pela Vida Mundial
(1976-1977), fixando-se definitivamente no jornalismo televisivo em 1978.
Durante cerca de dez anos foi jornalista do Telejornal, e de programas
diversos, como Zoom (actualidade internacional), Triangular
(reportagem nacional), Informação 2 – Internacional, Grande
Reportagem, Projectos Especiais, Documentais e Eruditos ou Departamento
de Artes e Documentários. Entrevistou escritores como Jorge Luís Borges e
Marguerite Yourcenar ou políticos como Kurt Waldheim, Delfim Neto, Enrico
Berlinguer, Georges Marchais, entre outros. Também na RTP assinou a realização
de vários documentários, entre eles, José Rodrigues Miguéis (1998), Jorge
de Sena – uma fiel dedicação à honra de estar vivo (1997), António Ramos
Rosa – estou vivo e escrevo sol (1997), Rómulo de Carvalho e o Seu Amigo
António Gedeão (1996), Vergílio Ferreira: retrato à minuta (1996), Corte
de Cabelo: história de amor, Lisboa, anos 90 (1996), Fonseca e Costa: A
descoberta da vida, da luz e da liberdade (1996), Humberto Delgado:
obviamente, assassinaram-no (1995), O Caso Big Dan's (1994), Iraque,
o país dos dois rios (1985), Aristides de Sousa Mendes, o cônsul
injustiçado (1983), Goa, 20 anos depois (1981).
Exerceu
os cargos de subdirectora do Diário de Lisboa (1989-1990), subdirectora
de actualidades na RTP1 (1998-2001) e subdirectora da RTP2 (2000-2001).
Integrou a Comissão de Trabalhadores da RTP (1993-1998) e foi presidente da
Direcção (1996-1998) e da Assembleia-Geral (1998-2001) do Sindicato dos
Jornalistas.
Leccionou
na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal (1998-1999)
e na Escola Superior de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Lisboa
(1998-2001).
Flora Gomes
Flora Gomes (Cadique, 13 de Dezembro
de 1949) é um cineasta da Guiné-Bissau, pioneiro do cinema local e um dos mais
representativos cineastas africanos. É conhecido pelo modo original de traçar
retratos africanos, recorrendo ao mito e à história actual, numa fusão de
elementos com delicada carga poética e forte sentido universal.
Filho
de pais iletrados, empenha-se desde criança, lutando contra toda a espécie de
dificuldades, em superar a sua condição social de origem. Conhece as
adversidades que o sistema colonial português, gerido pela mão férrea de
Salazar, impõe aos seus súbditos. Vê com admiração os líderes do seu país
baterem-se de armas na mão contra a injustiça e não esconde a sua admiração por
Amílcar Cabral, que, nas suas palavras, terá sido para com ele «como um pai».
Conhece a dura experiência do exílio e, empenhado no seu próprio combate,
estabelece laços de amizade com outros lutadores: não só os do seu país como
gente de Cabo Verde e de vários outros países africanos.
Estuda
cinema em Cuba (1972), no Instituto
Cubano de Artes e Cinematografia, sob a orientação de Santiago Alvarez.
Prossegue a sua aprendizagem no Senegal, no Jornal de Actualidades
Cinematográficas Senegalesas, sob a direcção de Paulino Vieira (Paulino
Soumarou-Vieyra). Co-realiza dois filmes com Sérgio Pina.
Foi
assistente de Chris Marker e de Anita Fernandez. Regressado ao seu país, filma
a sua independência (24 de Setembro de 1974), satisfazendo o desejo de Amílcar
Cabral de serem os próprios guineenses a registar em película esse momento
histórico. A Guiné, que se liberta do jugo colonial, é visitada por repórteres
e cineastas progressistas e, dados os conhecimentos já adquiridos nas lides de
cinema, Flora Gomes é bastante solicitado para os ajudar, o que enriquece o seu
saber. Trabalha no final da década como fotógrafo e operador de câmara,
colaborando com o Ministério da Informação.
Realiza
documentários históricos. A sua primeira longa-metragem de ficção é de 1987: Mortu
Nega, um filme que invoca a luta pela independência. A obra é exibida em
vários festivais internacionais e Flora Gomes desperta a atenção de
comentadores e críticos. Em França será acolhido de braços abertos, o que no
futuro lhe permitirá reunir meios financeiros para a produção de novos filmes.
Será distinguido neste país em 2000, com o título de «Chevalier des Arts et
Lettres».
Participará
e será premiado em festivais como os Veneza e Cannes, entre outros. Dada a sua
nacionalidade e o facto de vários dos seus filmes serem co-produções com
Portugal, Flora Gomes ocupa ainda um lugar especial na história do cinema
português.
Filmografia:
1976 – O
Regresso de Cabral (curta-metragem, documentário)
1977 – A
Reconstrução (média-metragem, documentário) – co-realização com Sérgio Pina
1978 – Anos
no Oça Luta (curta-metragem, documentário) – co-realização com Sérgio Pina
1987 – Mortu
Nega (etnoficção)
1992 – Os
Olhos Azuis de Yonta
1994 – A
máscara (curta-metragem, documentário)
1996 – Po
di Sangui (etnoficção)
2002 – Nha
Fala
2007 – As
duas faces da Guerra, co-realização com Diana Andringa (longa-metragem,
documentário)
2013 – República
di Mininus
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