quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Fantasia Lusitana, de João Canijo

Fantasia Lusitana, de João Canijo
22 de Fevereiro | 17h

Cine Clube do Barreiro


Fantasia Lusitana
De: João Canijo
Género: Documentário
Classificação: M/6
Portugal, 2010, p/b, 65 min.

Sinopse
‘Fantasia Lusitana’ é um documentário que explora a relação do povo português com os estrangeiros refugiados da Segunda Guerra Mundial, a forma como a sua estadia no nosso país influenciou (ou não) o nosso olhar sobre a guerra, e uma procura pela herança cultural deixada (ou não) pela sua passagem.
A propaganda imaginada e imaginária do salazarismo, durante a Segunda Grande Guerra, pregava a proeza de uma neutralidade devida ao génio de Salazar. Segundo essa propaganda, que proclamava a ausência da guerra no meio da guerra, mesmo com o fluxo de refugiados que chegava a Lisboa, Portugal era um paraíso de paz e tranquilidade, um «oásis de paz» totalmente alheio a uma guerra que só dizia respeito aos outros. A sensação que a propaganda transmitia era a de uma guerra que só afectava os portugueses na medida das dificuldades de sobrevivência. A propaganda, elevada a extremos nas crónicas do ‘Jornal Português’, ajudou a criar uma espécie de inconsciência protectora que seria cómica se não fosse trágica.
Uma leitura interpelante da história portuguesa do século XX construída inteiramente a partir de imagens de arquivo e da leitura de testemunhos desses refugiados nas vozes de Hanna Schygulla, Rudiger Vogler e Christian Patey.


Nota de intenções (pelo realizador)
Portugal viveu a Segunda Guerra Mundial dentro de um mundo de fantasia, a propaganda criou aos portugueses um nível de irrealidade fantasista em que a realidade violenta e terrível da guerra, o nível real da realidade, era uma coisa muito longínqua e de outro mundo. Mas a fantasia da propaganda era grosseira, porque, como diz José Gil, «A grosseria resulta do esforço e da impossibilidade de dar forma a um fundo visceral sem forma. O pior na grosseria, não é a ruína da forma, mas a arrogância em julgar-se forma.»; e essa grosseria tornava-se uma evidência com a chegada a Lisboa das vagas de refugiados que tentavam escapar ao nazismo e embarcar para as Américas. O filme funda-se no contraste entre as imagens fantasistas da propaganda e as imagens reais do sofrimento dos refugiados. Vive do contraste entre dois níveis de realidade: a irrealidade de uma fantasia lusitana e a dura realidade das consequências de uma guerra mundial. As imagens da fantasia fascista pretendem fazer acreditar que graças a Salazar se vivia em Portugal no melhor dos mundos; as imagens do sofrimento dos refugiados de passagem por Lisboa, à espera do barco que os livre do nazismo, apresentam a realidade. Estas imagens são amparadas pelos testemunhos escritos de d’Erika Mann, Alfred Döblin e Antoine de Saint-Exupéry, em textos que reflectem exactamente o pasmo dos autores diante da bizarra noção de realidade dos portugueses.

João Canijo
João Canijo nasceu no Porto em Dezembro de 1957. Foi estudante de História na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, entre 1978 e 1980, e entre 1980 e 1985 iniciou-se no cinema, tendo sido assistente de realização de Manoel de Oliveira, Wim Wenders, Alain Tanner ou Werner Schroeter. ‘Três Menos Eu’ (1988) foi a sua primeira longa-metragem, entretanto seleccionada para o Festival de Roterdão daquele ano. Trabalhou esporadicamente como encenador, tendo dirigido peças de David Mamet e Eugene O'Neill. É autor de ‘Noite Escura’ (2004), que estreou no Festival de Cannes de 2004, foi o filme português escolhido como candidato ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro desse ano e arrecadou em Portugal o Globo de Ouro para o Melhor Filme.
Em 2011 ganhou o Prémio Melhor Realizador no Festival Caminhos do Cinema Português pelo filme Sangue do Meu Sangue’.

Filmografia
Três Menos Eu (1988)
Filha da Mãe (1989)
Alentejo Sem Lei (1990)
Sapatos Pretos (1998)
Ganhar a Vida (2000)
Noite Escura (2004)
Mãe Há Só Uma (2007, curta-metragem)
Mal Nascida (2007)
Fantasia Lusitana (2010)
Sangue do Meu Sangue (2011)
É o Amor (2013)

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