Fantasia Lusitana, de João Canijo
22 de Fevereiro
| 17h
Cine Clube
do Barreiro
Fantasia Lusitana
De: João
Canijo
Género:
Documentário
Classificação:
M/6
Portugal, 2010, p/b, 65 min.
Sinopse
‘Fantasia Lusitana’ é um documentário que explora a relação
do povo português com os estrangeiros refugiados da Segunda Guerra Mundial, a
forma como a sua estadia no nosso país influenciou (ou não) o nosso olhar sobre
a guerra, e uma procura pela herança cultural deixada (ou não) pela sua
passagem.
A
propaganda imaginada e imaginária do salazarismo, durante a Segunda Grande
Guerra, pregava a proeza de uma neutralidade devida ao génio de Salazar.
Segundo essa propaganda, que proclamava a ausência da guerra no meio da guerra,
mesmo com o fluxo de refugiados que chegava a Lisboa, Portugal era um paraíso
de paz e tranquilidade, um «oásis de paz» totalmente alheio a uma guerra que só
dizia respeito aos outros. A sensação que a propaganda transmitia era a de uma
guerra que só afectava os portugueses na medida das dificuldades de
sobrevivência. A propaganda, elevada a extremos nas crónicas do ‘Jornal Português’, ajudou a criar uma
espécie de inconsciência protectora que seria cómica se não fosse trágica.
Uma
leitura interpelante da história portuguesa do século XX construída
inteiramente a partir de imagens de arquivo e da leitura de testemunhos desses
refugiados nas vozes de Hanna Schygulla, Rudiger Vogler e Christian Patey.
Nota de intenções
(pelo realizador)
Portugal
viveu a Segunda Guerra Mundial dentro de um mundo de fantasia, a propaganda
criou aos portugueses um nível de irrealidade fantasista em que a realidade
violenta e terrível da guerra, o nível real da realidade, era uma coisa muito
longínqua e de outro mundo. Mas a fantasia da propaganda era grosseira, porque,
como diz José Gil, «A grosseria resulta do esforço e da impossibilidade de dar
forma a um fundo visceral sem forma. O pior na grosseria, não é a ruína da
forma, mas a arrogância em julgar-se forma.»; e essa grosseria tornava-se uma
evidência com a chegada a Lisboa das vagas de refugiados que tentavam escapar
ao nazismo e embarcar para as Américas. O filme funda-se no contraste entre as
imagens fantasistas da propaganda e as imagens reais do sofrimento dos
refugiados. Vive do contraste entre dois níveis de realidade: a irrealidade de
uma fantasia lusitana e a dura realidade das consequências de uma guerra
mundial. As imagens da fantasia fascista pretendem fazer acreditar que graças a
Salazar se vivia em Portugal no melhor dos mundos; as imagens do sofrimento dos
refugiados de passagem por Lisboa, à espera do barco que os livre do nazismo,
apresentam a realidade. Estas imagens são amparadas pelos testemunhos escritos
de d’Erika Mann, Alfred Döblin e Antoine de Saint-Exupéry, em textos que
reflectem exactamente o pasmo dos autores diante da bizarra noção de realidade
dos portugueses.
João Canijo
João
Canijo
nasceu no Porto em Dezembro de 1957. Foi
estudante de História na Faculdade
de Letras da Universidade do Porto, entre 1978 e 1980, e entre 1980 e 1985
iniciou-se no cinema, tendo sido assistente de realização de Manoel de Oliveira, Wim Wenders, Alain Tanner ou Werner Schroeter. ‘Três Menos Eu’ (1988) foi a sua primeira
longa-metragem, entretanto seleccionada para o Festival de Roterdão daquele
ano. Trabalhou esporadicamente como encenador, tendo dirigido peças de David Mamet e Eugene
O'Neill. É autor de ‘Noite
Escura’ (2004), que estreou
no Festival de Cannes de 2004,
foi o filme português escolhido como candidato ao Óscar de Melhor Filme
Estrangeiro desse ano e arrecadou em Portugal
o Globo de Ouro para o Melhor Filme.
Em 2011 ganhou o Prémio
Melhor Realizador no Festival Caminhos
do Cinema Português pelo filme ‘Sangue do Meu Sangue’.
Filmografia
Três Menos Eu (1988)
Filha da Mãe (1989)
Alentejo Sem Lei (1990)
Sapatos Pretos (1998)
Ganhar a Vida (2000)
Noite Escura (2004)
Mãe Há Só Uma (2007, curta-metragem)
Mal Nascida (2007)
Fantasia Lusitana (2010)
Sangue do Meu Sangue (2011)
É o Amor (2013)
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