quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Mês da Música | Kora, de Jorge Correia Carvalho, seguido de conversa com o realizador e demonstração de kora por Braima Galissá


Mês da Música | Kora, de Jorge Correia Carvalho, seguido de conversa com o realizador e demonstração de kora por Braima Galissá
19 de Outubro | 16h | Cine Clube do Barreiro | Entrada livre

Numa iniciativa integrada no Mês da Música, o Cine Clube do Barreiro apresenta o documentário Kora, de Jorge Correia Carvalho, em torno de um dos mais importantes instrumentos musicais da África Ocidental. Após a exibição do documentário, segue-se uma conversa com o realizador e uma demonstração de kora por Braima Galissá (http://galissa.com.sapo.pt/).

Kora
De: Jorge Correia Carvalho
Género: Documentário
Classificação: M/6
Guiné-Bissau e Portugal, 2014, Cor, 70 min.




Sinopse
Na ficha de catalogação do Museu Nacional de Etnologia de Lisboa resume-se o invulgar objecto mas não se faz ouvir o seu som e toda a história, misticismo, querelas geográficas e percurso etnográfico de um dos mais importantes instrumentos musicais da África Ocidental. O kora é tão importante para esta região africana quanto desconhecido por nós, ocidentais. E enquanto um dos mais importantes repositórios destas culturas, a sua importância continua a ser transmitida pela oralidade, pela palavra do djidiu.
Motivo de orgulho de nações que nasceram de tribos sem fronteiras, existem discrepâncias sobre a origem deste instrumento, com os diferentes países a reclamarem-no como seu. Mas é durante o apogeu do Reino de Kaabú que muitas das lendas sobre a invenção do kora se cruzam. E Kansala, a cidade berço deste imponente reino, localizava-se numa área que actualmente pertence à Guiné-Bissau.
E assim, quem pode reclamar o kora como seu? A resposta vem pelas perguntas que o documentário também coloca aos djidius guineenses, personagens quase míticos da sociedade guineense. Eles são tocadores de kora, mas também os guardiães e intérpretes da sabedoria dos antepassados, da história épica de África Ocidental e dos seus protagonistas.
Mas porque aqui interessa não só a História do kora, mas as estórias que ouvimos na primeira voz que pulverizam a imaginação de quem as ouve, transportando-nos além tempo numa atmosfera única entre o real e a ficção. Uma viagem no espaço e no tempo, que começa por promover e registar o encontro do objecto de vitrina com o neto do seu dono original e avança, depois, para toda uma população que ainda reclama o kora como único e seu.


Nota de intenções (pelo realizador)
Começou como fantasia, cresceu como uma ideia legítima e ganhou corpo com a intensa e exaustiva planificação. A concretização chegou em Fevereiro de 2013, altura em que as malas se fecharam e se abriu a possibilidade de materializar este velho e ambicionado desejo.
O desejo tinha um destino: Guiné-Bissau.
Acompanhado da compulsão para a errância, da liberdade e da vontade de saber, parti para África. E desta vez seria diferente de tantas outras viagens já carimbadas no passaporte. Desta vez iria, ou tentaria, materializar a ambição de fazer um documentário.
Fazer um documentário era desde há muito um sonho por realizar. Assim, fui imaginando projectos próprios, com o profundo desejoso de transmitir novos olhares sobre o mundo, lançando novas pistas para despertar a curiosidade.
A curiosidade para este projecto nasceu por uma sonoridade que me conduziu a um desconhecido e curioso instrumento: o Kora.
Queria saber mais.
Quis encontrar, em Portugal, quem me pudesse ajudar e todos os caminhos desembocaram no Mestre José Braima Galissá. Marquei encontro, reunimo-nos, e o José relatou inúmeras fascinantes e histórias.
Das muitas histórias contadas pelo Mestre, destacou-se a da existência, ainda hoje, do Kora de seu avô, Buli Galissá, no Museu Nacional de Etnologia em Lisboa. Interessou-me também o facto de ainda hoje Buli Galissá ser lembrado na Guiné-Bissau pelo seu papel na relação entre os governantes portugueses e a sociedade guineense da antiga cidade de Nova Lamego. O kora passou a ser muito mais do que uma sonoridade invulgar e um objeto de forma diferente. Tentei aprofundar os conhecimentos, fazer novas pesquisas.
Nas primeiras pesquisas sobre o Kora encontrei diversos - mas confusos - conteúdos. No topo destas incongruências estava a sua origem territorial que ainda hoje faz vários países, com grandes tradições musicais, reclamarem a sua pertença. Mas houve algo que me chamou a atenção: era comum encontrar referências ao nome Kansala, a capital do antigo Reino de Kabuu.
A minha grande admiração chegou com a descoberta de que esta cidade mítica existiu num território que actualmente pertence à Guiné-Bissau. Os pretextos para me decidir a realizar o documentário sobre o Kora estavam, também, aqui, na sua origem e em todas as histórias que o rodeiam. Decidi ir à procura deste mundo ancestral, envolto entre a realidade e a ficção, que passa pela tradição oral ainda existente.
Partir para a tradição local, para o terreno, para África começou com a expectável dificuldade de financiamento. Procurei novas alternativas. Frustradas. O documentário estava cada vez mais longe de se concretizar. A solução passou por muita contenção nas despesas pessoais e, acima de tudo, por arriscar a pegar na câmara e partir. Foi o que fiz. Sem patrocínios e sem financiamento para o projecto, sobrava – ou acrescentava – a preciosa ajuda e participação de colegas e amigos. Eles apoiaram com a logística da viagem e com o empréstimo da maioria dos equipamentos de vídeo e áudio. Acima de tudo, ajudaram com o estímulo de considerarem as histórias do Kora obrigatórias a difundir. Afinal, este não era já, e apenas, um desafio meu. É um projecto que outros querem ver finalizado como documentário.
E o que pretendo com este documentário? Acima de tudo, explorar a relação entre o ser humano e o instrumento musical. Mais do que o confronto de teorias sobre a origem exacta do Kora é a vivência deste povo que o reclama, que o usa, que lhe atribui histórias e poderes quase mágicos. Esta é para mim a melhor forma de dar a conhecer a riqueza da simbiose dos guineenses com o seu Kora.

Biofilmografia do realizador (pelo próprio)
Início de atividade em 2001 como Editor de Vídeo em projectos televisivos. Mas é o Género Documental que traça de forma mais vincada o meu percurso profissional. Com uma vasta participação em documentário como editor (Guitarras à Portuguesa; Lisboa vista do Rio; Boteco; Bola Quadrada; Legado Português; Apanhei-te Cavaquinho; Mariza Nos Palcos do Mundo; Rui Veloso, Saiu para a rua; A Canção que Lisboa não Cantou - Raul Ferrão; Saudades da Terra - 50 anos do Vulcão dos Capelinhos; Mais Perto de Casa; Elvas, a Chave do Reino; Angola, a história do dinheiro; Documentário Biográfico José de Guimarães), desenvolvi um interesse particular nesta área, com a criação de projectos próprios, como o mais recente documentário sobre um ancestral instrumento da África Ocidental, o Kora. Sou também autor do Documentário Formas de Pensar o Cinema. Participei como Realizador nos documentários Argentina Santos, Não sei se Canto se Rezo; Antígono, uma ópera sem memória; e Nunca é meia-noite Dr. Nobre. Deste 2007 que sou Professor Adjunto na ECATI (Universidade Lusófona) nos cursos de Cinema e Animação em disciplinas ligadas à Montagem Cinematográfica. Tenho o Mestrado em Ciências da Comunicação, pela Universidade Católica Portuguesa, cuja dissertação resultou no livro Cinema e Tecnologia, Pós-produção e a Transformação da Imagem, do qual sou autor.

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