terça-feira, 4 de novembro de 2008

O Acontecimento - M. Night Shiamalan (6 de Novembro, 21h30, AMAC)


Sinopse


Começa sem aviso. Chega de parte incerta. Em minutos, acontecimentos estranhos e mortes arrepiantes, que desafiam a razão e fazem enlouquecer as pessoas com a sua chocante destruição, alastram-se nas principais cidades americanas. Qual será a causa deste súbito e total colapso do comportamento humano?
Será uma nova espécie de ataque terrorista, uma experiência científica que correu mal, uma diabólica arma tóxica ou um vírus incontrolável? Como se transmite? Pelo ar, pela água? De onde vem a ameaça?

Para Elliot Moore (Mark Wahlberg), professor de Ciências em Filadélfia, o mais importante é escapar ao fenómeno mortal. Elliot e a mulher Alma, apesar da crise conjugal que enfrentam, tentam fugir, primeiro de comboio e depois de carro, juntamente com outro professor e a filha deste, para o campo, esperando que aí não ocorram ataques. Mas depressa percebem que ninguém está a salvo em lado nenhum. Elliot terá de perceber o que motiva os ataques para conseguir garantir a sobrevivência do grupo.


Crítica - Paraíso Americano

Há cineastas cujos sucessos comerciais ajudam a construir uma fortíssima imagem de marca.

M. Night Shyamalan é um deles: o seu nome é um elemento promocional que instala expectativas precisas. Quase inevitavelmente, esse volta a ser o grande desafio da história que se conta em «O Acontecimento» e cujo desenvolvimento a mais básica decência jornalística aconselha a não revelar.

O "ataque" inicial, no Central Park de Nova Iorque, evoca as referências mais diversas, desde as de natureza histórica (os traumas do 11 de Setembro) até às especificamente cinéfilas (uma certa ambiência de inquietação vinda de alguma ficção científica da década de 50). O certo é que cedo percebemos que não é tanto o "porquê?" que interessa esclarecer, mas sim o "como" está a acontecer.

Insistindo no minimalismo de outros momentos, Shyamalan elabora um filme que caminha para uma estranha e impressionante claustrofobia, tanto mais paradoxal quanto se constrói quase sempre a partir de espaços abertos (as zonas rurais para onde fogem os protagonistas).

Por um lado, sentimos que o extremismo da situação expõe os desequilíbrios da ordem vigente, familiar ou colectiva; por outro lado, quanto mais o mistério se adensa, mais ganha importância o retorno aos lugares viscerais da Natureza (sim, com maiúscula) e o sentimento de que a ilusão humana do Bom Selvagem é uma espécie de preciosidade mitológica que ficou fechada nos contos de fadas.

«O Acontecimento» talvez se possa definir, então, como um reencontro trágico da América com a própria ideia de um Paraíso Natural.

Em termos cinematográficos, é uma proposta tanto mais desconcertante (e oportuna) quanto os filmes meramente digitais nos têm feito esquecer a beleza e o medo que nascem de acontecimentos rudimentares a que Shyamalan devolve uma tocante dignidade dramática: o agitar das folhas das árvores, o som do vento, os matizes das ervas secas.

Não é um filme lírico ou meramente ecológico, mas sim genuinamente romântico: trata-se de evocar aquilo que, em nome do progresso, para sempre perdemos.

João Lopes, Diário de Notícias a 12 de Junho de 2008

Mais informações: Castello Lopes | IMDB

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