sexta-feira, 21 de março de 2008

Sweeney Todd, O Terrível Barbeiro de Fleet Street - Tim Burton (3 Abril, 21h30m, AMAC)



Johny Depp é Sweeney Todd, um barbeiro apaixonado que se vê injustamente condenado à prisão, nas galés, por um juiz que lhe cobiça a sua bela mulher.
Mas Sweeney nunca esquecerá nem nunca perdoará. Quando regressa a Londres, para tentar reencontrar a mulher e a filha, descobre o trágico destino que tiveram após a sua prisão, Sweeney afia as suas navalhas, que a Senhora Lovett (Helena Bonham Carter), a mulher que faz as piores empadas de Londres, lhe guardou. Começa então a preparar a sua vingança, treinando as suas mãos e fazendo a barba a cavalheiros de que nunca mais se ouve falar... Tudo para vingar a mulher e recuperar a filha das mãos do pérfido juiz Turpin, que agora se quer casar com ela. Ao seu lado, a cúmplice Lovett, que aproveita para rentabilizar o negócio de forma diabólica com os crimes de Sweeney que ficará na memória de todos como o Terrível Barbeiro de Fleet Street.

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'Sweeney Todd', o musical de cortar à navalha de barba

Musical negro de carvão e vermelho de sangue
O novo filme de Tim Burton, Sweeney Todd, o Terrível Barbeiro de Fleet Street tem uma história que vem de longe, como a fama do brandy do anúncio.

Tudo começou com aquilo a que hoje chamamos um mito urbano. Um tal Sweeney Todd, barbeiro de profissão, dedicava-se, na Londres do início do século XIX, a assassinar os clientes, que depois roubava, e com cuja carne a sua cúmplice fazia tortas muito apreciadas pelos incautos compradores. Todd terá sido preso, condenado e enforcado, mas não existem quaisquer registos que provem a sua existência.

A personagem insinuou-se na imaginação popular, chegando a ser referida por Charles Dickens no seu livro Martin Chuzzlewit (1843). Entretanto, a literatura de cordel, as publicações sensacionalistas e de crimes e o teatro popular vitoriano tinham-se apropriado de Sweeney Todd e da sua macabra história, muito divulgada e representada nos palcos durante o resto do século XIX. O primeiro filme, ainda mudo, sobre Sweeney Todd, foi feito também em Inglaterra, em 1926.

Em 1973, o dramaturgo britânico Christopher Bond escreveu a peça Sweeney Todd. Nela, o barbeiro deixa de ser um mero criminoso, mas sim a vítima de um juiz corrupto e vicioso, que o faz deportar para a Austrália para se apoderar da sua jovem mulher. A vingança passa a ser o motor das sangrentas acções da personagem e o enredo ganha uma dimensão social, com críticas à desigualdade de classes, à justiça corrupta e à voracidade desumana do capitalismo industrial galopante.

Em 1979, surgiu na Broadway o musical Sweeney Todd, de Stephen Sondheim e Hugh Wheeler, inspirado na peça de Bond, e interpretado por Len Cariou e Angela Lansbury.

Na noite da estreia, metade da plateia saiu antes do fim, horrorizada. O musical era ainda, à altura, um formato "feliz" e escapista por excelência, e nunca se tinham visto assassínios, sangue, canibalismo e humor negro combinados com música num palco da Broadway. Mas o génio de Stephen Sondheim levou tudo à frente. Sweeney Todd conquistou a crítica e o público, esteve quase dois anos em cartaz e ganhou oito Tonys.

Tim Burton nunca foi fã de musicais, mas sempre teve um fraquinho por Sweeney Todd, pela música, pelo "sentido do macabro" e pelas qualidades cinematográficas.

Por isso, quando em 2006, Sam Mendes desistiu de filmar Sweeney Todd com Russell Crowe, Burton chegou-se à frente e conseguiu o que Mendes não tinha conseguido: conquistar Stephen Sondheim para o projecto. O compositor reservou-se o direito de aprovar os actores, e quando deu o seu "sim" a Johnny Depp e a Helena Bonham Carter, Tim Burton teve luz verde para empapar as telas de vermelho.

Sweeney Todd, o Terrível Barbeiro de Fleet Street foi filmado no limite da dessaturação cromática, num negrume de carvão que infiltra a cidade e mancha os corações, só contrariado pelos chuveiros de sangue das gargantas abertas pelo barbeiro.

O musical de Sondheim é filtrado pela sensibilidade macabra e pela cinefilia de terror rétro de Tim Burton, mas sem a sua habitual poesia lúgubre, nem o humor negro da produção de palco. Johnny Depp interpreta Sweeney Todd como se fosse o irmão impiedoso de Eduardo Mãos de Tesoura, e canta como se estivesse possuído por David Bowie. E as navalhas só descansam quando já não há nenhum gorgomilo para talhar.

texto de Eurico de Barros publicado em dn.sapo.pt

www.sweeneytoddmovie.com

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