Título Original: L' Anglaise et le Duc
Realizador: Eric Rohmer
Ano: 2001
Países: França
Duração: 129 min.
Classificação: n/d
Crítica
O filme adapta as memórias de Grace Elliot, uma inglesa que deixou escritas as suas aventuras durante o período de Terror da Revolução Francesa – Grace era monárquica, e foi nessa perspectiva que descreveu tudo o que viu. A inglesa registou ainda o desencontro de argumentos que travava com o Duque de Orleães, ex-amante, que era primo de Luís XVI, mas que nesses tempos difíceis optou, estrategicamente, por votar a favor da morte do rei.
No filme, Grace é, assim, uma típica heroína rohmeriana, daquelas que estabelece uma regra de conduta, um programa ideológico e prático para dominar o mundo que a rodeia. Com um indisfarçável sentimento de excitação pelo perigo. Grace vê-se a si mesma como heroína das aventuras que delineou – mas tudo vai, inevitavelmente, ser modificado pelo acaso.
A INGLESA E O DUQUE é o anunciado encontro de Rohmer, 81 anos, com as novas tecnologias. Com os interiores filmados em estúdio, os exteriores “incrustam”, através de computador, as personagens em ilustrações que desenham a topografia de Paris do século XVIII. Não há um único exterior que não seja “pintado”, mas, diz Rohmer, não lhe interessou a política nem a ideologia (respondendo a quem sente um odor “reaccionário” na adopção do ponto de vista monárquico). Antes, a possibilidade de pintar a geografia da cidade numa determinada época. E a verdade pictórica dos sentimentos.
A INGLESA E O DUQUE é, assim, e de uma forma quase irónica, deliciosamente artesanal, reencontrando o privitivismo do cinema mudo (Gance e Griffith foram as referências, segundo o realizador). Como não podia deixar de ser numa obra tão moderna e de um classicismo tão intenso, o que interessa aqui não é a vertigem dos efeitos, mas a aventura mais exaltante do romanesco.
Vasco Câmara, Público
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