segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Alexandra - Aleksandr Sokurov (20 Novembro, 21h30m, AMAC)




Chechénia, nos dias de hoje. Uma frente russa. Aleksandra Nikolaevna é a avó que visita o neto, um dos melhores oficiais da sua unidade. Passam-se os dias e ela descobre um novo mundo. Um mundo de homens onde não há mulheres, sensibilidade ou conforto. O dia-a-dia é pobre, num local onde as pessoas são parcas nos seus sentimentos. Simplesmente, porque talvez não haja tempo nem energia para isso. A cada dia, cada hora, decidem-se questões de vida ou de morte. No entanto, é um mundo ainda habitado por pessoas.

Neste filme sobre a guerra, não há guerra.
(a partir de uma entrevista com Alexander Sokurov)

Para mim esta história não é sobre o presente mas sobre o que é eterno. Não é sobre a Rússia dos dias de hoje, a sua política no Cáucaso, ou o seu exército, mas sobre a vida eterna da Rússia. A guerra é sempre uma coisa terrível. Neste filme sobre a guerra não há guerra. As operações militares foram levadas para fora dos limites do filme. Não gosto de filmes sobre a guerra. Foi suficiente para mim estar lá uma vez e ver com os meus próprios olhos para fazer com que esses ataques espectaculares, pitorescas explosões, corpos a cair em slow-motion , se tornassem ligados ao conceito de “vulgar” e “falso”.
Não há poesia na guerra, não há beleza, e nunca deveria ser filmada de uma forma poética. É um horror que não se consegue exprimir, a degradação humana não pode ser expressa. E para compreender isso basta viver uma só vez esta experiência real.

Alexandra era o título provisório mas tanto os produtores Russos como Franceses pediram para o manter. Há uma raiz universal ligada ao nome Alexandra. O nome desenha um simples e directo caminho à personagem.

Um passado contínuo


O que chamamos de contemporâneo é muito relativo. A altura em que filmámos já é passado em relação a hoje. Tentámos formular os conflitos que existiam e existem. Uma espécie de “present tense”. Sou filho de um militar, vivi em muitos acampamentos militares e para mim não há nada de moderno aí, nada de exótico. O nosso filme pode parecer moderno para alguém com um grande sentido de consciência social, mas em Alexandra não há um zeitgeist.
Não há uma única palavra que não pudesse ter sido dita há 40 anos atrás. E eu não tenho a certeza que daqui a 40 anos tudo tenha mudado. Neste filme falamos de aspectos constantes, não apenas dos aspectos russos constantes. A heroína podia ser uma mulher americana que foi ver o seu neto ao Iraque, ou uma mulher inglesa que foi ver o seu neto ao Afeganistão. Eu sei que a República da Chechénia pagou um preço terrível pela paz. Eu sei dos inúmeros crimes e que a guerra endurece as pessoas. Mas a guerra terminou e nós devemos regressar uns aos outros e respeitar mutuamente os sacrifícios que fizemos. O filme é uma obra de ficção, não um acto político.
Neste filme, procuramos formas de aproximar as pessoas e encontramo-las.

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