segunda-feira, 9 de junho de 2008

Juno - Jason Reitman (12 Junho, 21h30m, AMAC)



A história de Juno (2007) é simples: uma menina esperta engravida acidentalmente do seu melhor amigo, na única noite que passaram juntos. Ela decide entregar o bebê para adoção - e inicia uma convivência com o casal que vai adoptá-lo enquanto segue com sua vida quotidiana, agora complicada pela barriga que cresce.
Diablo Cody, argumentista-sensação do momento, blogueira, ex-stripper, ex-operadora de tele-sexo, é dona de um estilo invejável. Os diálogos de Juno (Ellen Page) são inteligentíssimos, ácidos, com uma linguagem elaborada (que a legenda nacional destrói sem qualquer dó) e ao mesmo tempo inocente.
Material excepcionalmente bom, com um notável equilíbrio entre drama e comédia - e perfeito para o estilo do cineasta Jason Reitman, que havia mostrado as mesmas qualidades na sua estreia no cinema, no igualmente afiado Obrigado Por Fumar.
Juno é um filme de personagens. A história não tem grandes emoções ou surpresas (bom, tem uma) e nem tem a intenção de ser assim. A relação da personagem com o mundo é o que torna o filme memorável.
Obviamente, esse tipo de estrutura, que deixa a responsabilidade nos ombros dos protagonistas, exige um elenco à altura - e Reitman foi extremamente feliz na seleção do seu.
Começando por Ellen Page (a Kitty Pryde de X-Men 3). A menina está simplesmente perfeita como Juno MacGuff, transformando aquelas linhas escritas por Cody em suas. E está em ótima companhia: J.K. Simmons (o J.J. Jameson de Homem-Aranha), Allison Janney (The West Wing), Michael Cera (Superbad), Jennifer Garner (Alias) e Jason Bateman (O Reino)... não há um só elo fraco na corrente e todos parecem partilhar do particular sentido de humor da argumentista e do realizador. Sem falar em Olivia Thirlby, que vive a melhor amiga de Juno e dispara as melhores frases do filme.
Particularmente, acredito que o longa só erra ao fazer um juízo errado do "nerd moderno", representado ali por Mark (Bateman).
Diablo Cody pode entender perfeitamente o universo feminino, mas faltou uma certa paciência com o pobre Mark - uma coisa que só entende quem, como ele, sofre com reclamações a respeito da pilha de gibis, o volume com que escuta Sonic Youth e precisa assistir ao seu "gorezinho" querido tarde da noite (sim, tomei as dores dele). Mas, novamente, é algo meramente particular, que não prejudica o todo.
Reitman acerta a mão também na banda sonora - clássicos como Kinks e Buddy Holly dividem espaço com nomes alternativos da cena atual, como Belle & Sebastian e Cat Power, e tem até Velvet Underground para deleite dos fãs.
Sinceramente, nunca imaginei que ouviria a voz de Maureen Tucker, que canta "I'm Sticking with You", no grande ecrã. A música, aliás, representa a direção do filme.
Sem exagero, Juno é o tipo de filme a que eu gostaria de assistir durante toda a semana.
Sensível, honesto e inteligente como poucos. Um filme sobre comunicação, entendimento e escolhas. Uma nova pérola da cinematografia independente norte-americana, com uma pitada de esquisitice, um jovem herdeiro de Wes Anderson - e esse é o melhor elogio em que eu consigo pensar.

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